sexta-feira, 29 de julho de 2011

Às religiões corresponde escutar a Parapsicologia.

TEMPLO ENDEMONINHADO?

Em maio de 1981, a agência de notícias científicas “National Enquirer” (Pesquisador Nacional) espalhava pelo mundo os acontecimentos na Igreja de Saint Mark, em Cheyene, EUA. “Figuras envoltas em sombras aparecem e desaparecem no ar (Fantasmogênese em Parapsicologia); imensos sinos soam sozinhos e um órgão começa a tocar repentinamente (Telecinesia); misteriosos passos percorrem o teto (Tiptologia).

Perante esses estranhos fatos que não pode negar (é a solução mais cômoda de muitos cientistas estabelecidos: “sábios muito limitados”), o Reverendo Eugene Tood –continua o “National Enquirer”- não teve dúvidas de que a igreja estava infestada por demônios e espíritos maus”. Por quê? Porque “não consigo achar nenhuma explicação racional”.
Então, não explique!


ISSO SÓ PROVA DESCONHECIMENTO
. Argumenta o parapsicólogo e teólogo Herbert Haag: “De nada serve exclamar pateticamente que vemos todos os dias, com nossos próprios olhos, e padecemos em nós mesmos, a ação do Diabo. Não se pode aduzir a experiência como meio de prova em Teologia. Nem todos os teólogos têm compreendido claramente este ponto, quando tratam de demonstrar a existência do Diabo com argumentos empíricos ou com argumentos filosóficos”. Os “argumentos empíricos”, os fatos, antes devem ser retamente analisados pela ciência. Os “argumentos filosóficos” devem surgir apoiando-se nos fatos cientificamente analisados.


O magnífico teólogo (e muito interessado pela Parapsicologia) Padre Karl Rahner, jesuíta, reconhece que temas como “a sutil corporeidade dos diabos, sua ciência e poder, a possessão demoníaca, as bruxas, a feitiçaria, a adivinhação etc.” não passam do estágio de “teologúmena” (disquisições de teólogos), “porque não existe um autêntico ponto de partida teológico para sua solução”.


Esta é a posição verdadeiramente religiosa. A Teologia, a Religião é em relação com a Doutrina sobrenatural, revelada. Qualquer afirmação sobre o tema demonologia deve partir do campo da ciência, “da história da Salvação” (como afirma a excelente coleção Mysterium Salutis), “da ciência experimental” (como afirma o grande teólogo Darlapp), da “história da humanidade” (teólogo Shierse), etc., etc. Isto é, da Parapsicologia por tratar-se de fenômenos incomuns. Lamentavelmente muitos teólogos, a maior parte, ainda não “se enterraram”. Há, sim, grandes teólogos que são também grandes cientistas, especialmente em temas relacionadas com a Bíblia ou a Religião em geral. Inclusive, e precisamente por seu interesse para a Religião, os melhores parapsicólogos são padres.


“Vemos todos os dias... a ação do Diabo”. Rito secreto no Candomblé pretendendo incorporar os espíritos da sexualidade. Quando descobriram o fotógrafo, oculto, quase o lincham. E o prenderam... Uma hora mais tarde tudo era desenfreada orgia sexual. E as “possessas” ofereciam seus encantos provocativos ao fotógrafo, Mimmo Cattarinich. ch.

SÁBIOS MUITO LIMITADOS.
Após a colocação daquela premissa, “teologúmena”, Rahner acertadamente frisa que a Parapsicologia “topa com o ceticismo de homens guiados pelo empirismo das ciências naturais”.

Homens formados na repetibilidade e regularidade dos fenômenos físico-químicos facilmente são levados a acreditar que tudo aquilo que não é regular e repetível não é válido.


Isso é uma deformação profissional. O verdadeiro cientista deve encarar a realidade como é, não como alguns cientistas do puramente material gostariam que fosse. Não é científico acomodar a realidade ao método de estudo em que eles se habituaram, senão que o científico é acomodar o método de estudo às exigências da realidade.

ERRADO RESPEITO À TEOLOGIA.
Além da deformação pela ciência materialista, muitos médicos, físicos, psicólogos e outros cientistas não entraram na pesquisa dos fenômenos parapsicológicos, que realmente a eles pertencem, por terem-se acovardado perante um pretenso respeito à Religião.

O teólogo e parapsicólogo padre Jean Lhermitte observa: Um médico, psicólogo etc. com conhecimentos de Parapsicologia “como é que pode estar à altura de julgar estados cujo conteúdo aparentemente lhe ultrapassam? Pelo fato de o médico (etc.) qualificado (inclusive no campo da Parapsicologia, no incomum) possuir luzes sobre a patologia humana, das quais o teólogo (o exorcista, o padre, o pastor, o agente de pastoral...), enquanto tais, são desprovidos”.


É verdade histórica que o recurso à Religião paralisou as pesquisas científicas sobre os fatos parapsicológicos. Erro da ciência ao marginalizar esses fatos incomuns, irrepetíveis à vontade... Erro da religião ao assumi-los para si.


Como também é incabível com fatos observáveis argumentar no campo da fé, das verdades sobrenaturais, inobserváveis...


“Espetáculo da Loucura Humana”, fragmento de um quadro de Augusto Barthelemy Glaise. Representa a doutrina defendida numa Encíclica! (de Gregório IX, Papa de 1227 a 1241), a respeito do Sabbat das bruxas.

NA ÉPOCA DA BRUXARIA. Essa indevida mistura de planos era de praxe na época da bruxaria, mas ainda hoje ressoa entre muitos teólogos, pastores evangélicos e toda classe de seitas.

Um monge italiano, frei Francesco Maria Guazzo (Guaccius), muito considerado na sua época, escrevia em 1608 num livro pelo que se orientavam os inquisidores: “É claro como a luz do dia que os demônios transportam as bruxas em carne e osso ao Sabbat, pelos ares (...) Os que afirmam que tudo isso não é verdade, senão que é sonho ou ilusão, certamente pecam por irreverência à nossa mãe, a Igreja (...) Portanto, ou a Igreja está no erro, ou o estão os que mantêm a crença contrária”.


Respondo. Argumentação completamente errada. Não se trata de doutrinas, inobserváveis, sobrenaturais, da fé, senão de fatos do nosso mundo. Trata-se de saber se tais fatos são históricos e analisar os fatos à procura das suas causas. Neste tema a Igreja, a Teologia, a Pastoral, as Religiões e seitas devem seguir o ditame da Ciência, da Parapsicologia.

Uma das petições mais fundamentais do Concílio Vaticano II, especialmente na constituição “Gaudium et spes” (Alegria e esperança), é a recomendação do diálogo constante com a ciência. Os líderes religiosos precisam da colaboração daqueles que “sejam ou não crentes, conhecem a fundo as diversas instituições e disciplinas. Os mais recentes estudos e as novas descobertas das ciências (...) suscitam problemas novos, que trazem consigo conseqüências práticas e inclusive reclamam novas pesquisas teológicas (...) Há que reconhecer e empregar suficientemente no trabalho pastoral (...) os descobrimentos das ciências profanas, especialmente em psicologia e em sociologia, levando assim os fiéis a uma mais pura e madura vida de fé”.


E A AUTORIDADE DA IGREJA? Não é incumbência da Bíblia, nem de Cristo, nem dos Apóstolos, nem da Igreja, nem do Papa... corrigir os erros científicos das diversas épocas em que escreveram ou pregaram o “Reino de Deus”. Usaram a cultura, ou lendas e erros científicos da época como instrumento de linguagem para transmitir a Revelação.

Entrar no campo da ciência foi o erro que a Igreja cometeu, por exemplo, contra as afirmações astronômicas de Galileu. “Na Bíblia se afirma (...) que Josué parou o Sol!”. Portanto, é o sol que gira ao redor da Terra, a Terra não se move. “Eppure si muove”: tinha razão Galileu Galilei.

Galileu Galilei perante o Santo Oficio. Mas tinha razão Galileu.

O papa João Paulo II, em 28 de outubro de 1980, reabilitou Galileu e reconheceu que a Igreja saiu do seu campo. Não se pode invocar em ciência a Doutrina revelada.

E no dia 16 de novembro de 1980, todos os jornais comunicavam que João Paulo II, ao visitar a Alemanha, no seu primeiro discurso, no aeroporto, diante das autoridades, pediu perdão aos cientistas pelos erros cometidos pela Igreja quando, apoiada na Bíblia e na Teologia, pronunciou-se como se fosse mestra suprema também na interpretação de fatos observáveis do nosso mundo.


No pedir perdão, evidentemente deve-se incluir o propósito de emenda... Esperamos que na interpretação dos fenômenos parapsicológicos não teimem alguns teólogos em não escutar e contrariar a Parapsicologia...


Entre os católicos, só no fim do século XIX e começo do XX o frei dominicano Réginald Garrigou-Lagrange, fundador da “École Biblique” de Jerusalém, começou a servir-se da ciência na interpretação da Bíblia. Concretamente dos diversos gêneros literários E foi duramente combatido. Durante todo um decênio, o padre Lagrange caiu em desgraça junto ao Vaticano. Mas por fim, o método não só foi reconhecido, senão proclamado obrigatório por Pio XII.


O Concílio Vaticano II não só acenou para os gêneros literários, como também claramente frisou a necessidade de levar em conta outros ramos da ciência, quantos possam interessar para melhor compreensão da realidade que aparece na Bíblia ou que, de alguma maneira, se relaciona com a fé. “Entre outras coisas há que atender aos gêneros literários (...) ou a outras formas de falar. Convém, também, que o intérprete pesquise o sentido (...) em cada circunstância, segundo a condição do seu tempo e de sua cultura”.


Repito mais uma vez: A Bíblia não são livros de Ciência humana, ou concretamente de Parapsicologia. Ensinam Doutrina sobrenatural, inobservável, servindo-se como instrumento de linguagem, da cultura (mesmo erros e lendas) das diversas épocas em que foi escrita.

E A AUTORIDADE DE CRISTO? Jesus Cristo, alem de ser Deus, era também realmente homem. Jesus, como Deus não podia morrer, mas morreu como homem; teve fome, teve sede, teve pavor e tédio até o suor de sangue... como homem. E “Jesus crescia em estatura e em sabedoria” (Lc 2,52): é claro que quando perguntava o fazia com sinceridade porque, como homem, não sabia.

Pode-se afirmar com segurança que Cristo, como homem, tinha desconhecimento científico e concretamente de Parapsicologia. Encomiasticamente destaca o Dr. Allan W. Watts (Membro da “Academia Americana de Estudos Orientais”): “Entre os quatro Evangelhos canônicos e os evangelhos apócrifos há uma enorme diferença, é que nos primeiros Jesus é sempre um homem, enquanto que nos últimos sua condição humana se perde na divindade. Seu conhecimento humano não atingia o onisciência divina. Era limitado. Era impossível para ele saber, por exemplo, que Moisés não escrevera o Pentateuco”.

Em várias passagens evangélicas Jesus aparece dentro da mentalidade cultural daquele tempo. Assim, por exemplo, ele aparece aceitando que a Terra é plana (Mt 24,27; Mc13,27) e centro do universo (Mt 24,29; Mc 13,24s.); que o sol nasce ou se levanta (Mt 5,45); que o grão de trigo morre após semeado (Jo 12,24); que a semente da mostarda é a menor das sementes da Terra (Mc 4,31), mas que quando semeada, cresce até converter-se na mais alta das árvores (Mc 4,32) (alguns biblistas em vez de “árvores” traduzem por “hortaliças”, com o que a contraposição perderia sentido, além de que não abrigaria as aves!: Mc 4,32b).

Se na interpretação dos outros fatos Jesus se mantém dentro dos conceitos judaicos do mundo, por que haveria de se afastar de tais conceitos na interpretação dos fenômenos chamados demoníacos? Aos satanistas, umbandistas... e demais médiuns que se acham incorporados por demônios ou maus espíritos, Cristo os trataria como possessos pelo demônio... 


Na Umbanda, Macumba, Candomblé etc. quando não podem sacrificar crianças, sacrificam animais.

Portanto, em questões científicas, não há como invocar a autoridade de Cristo. Não se pode responsabilizar a Cristo pelos erros científicos da sua época. Responsável é a incultura. Responsáveis –sem culpa, por ignorância– foram toda classe de teólogos e pastores que pretenderam aplicar a Bíblia à interpretação de fatos.


RELACIONADO, NÃO RELIGIOSO. Muitos teólogos e pastores afirmam que a Parapsicologia não tem condições de explicar a ação demoníaca, porque é um tema religioso.

Respondo: Meros preconceitos herdados, sem reflexão. Permito-me negar com todo convencimento. Devo repetir até a saciedade, porque é muito importante: São fatos do nosso mundo. Relacionado, sim, mesmo que só fosse pela opinião, errada secular, mas não tema propriamente religioso.


Mesmo que a Parapsicologia não soubesse explicar esses fatos, não bastaria tal desconhecimento para por isso considerá-los tema religioso. Como fatos históricos e observáveis, embora incomuns, do nosso mundo e relacionados com o homem, continuariam a ser tema de pesquisa pela Parapsicologia. Para atribuí-los ao demônio não bastaria não saber explicá-los, haveria que demonstrar que de fato foi por poder demoníaco.


É claro, interessa à Teologia, como todos os fenômenos parapsicológicos, mesmo que só fosse porque sempre foram interpretados como coisas do além: demônios, mortos, exus, orixás, fadas, musas, larvas astrais... Mas tais opiniões seculares deveriam haver sido demonstradas...


O teólogo e grande parapsicólogo jesuíta, padre José De Tonquedec argumenta: Não tratamos do “sobrenatural essencial (...), o sobrenatural propriamente dito (...) totalmente inacessível à ciência”. A suposta possessão demoníaca, ou qualquer outro acontecimento supostamente do demônio é, no máximo, “sobrenatural modal”: apresenta sinais de valor comprovatório que devem ser estudados antes de atribuir o fato ao sobrenatural.


É lúcida a advertência de João Batista Van Helmont (1577-1644), o mais importante discípulo de Paracelso. Contra o padre jesuíta que queria reservar à Teologia o diagnóstico da intervenção demoníaca, Van Helmont lembrou que “os teólogos devem ocupar-se das coisas sobrenaturais, e os naturalistas das coisas da natureza”. A verificação histórica dos fatos demoníacos e a verificação de toda e qualquer hipótese explicativa pertence “aos filhos da natureza”. O teólogo, o exorcista, os pastor evangélico... não pode invocar a autoridade da Religião. A Ciência, isto é a Parapsicologia por tratar-se de fenômenos incomuns, está no seu próprio campo.


Sexualidade e sacrifícios de animais (ou de pessoas!) vai junto em todo tipo de Satanismo ou “incorporações” de espíritos...

NECESSIDADE DA PARAPSICOLOGIA.
Com toda evidência são falhos livros de demonologia como o recente” do jesuíta padre Juan B. Cortés, ou como o já clássico do padre Corrado Balducci. O Pe. Cortés en su “Proceso a las posesiones y exorcismos”, sua tese doutoral em Teologia, dedica longos capítulos à Psicologia, à Psiquiatria..., nem uma única vez nomeia a Parapsicologia! Por sua parte, Monsenhor Balducci no seu “Gli Indemoniati” (traduzido a várias línguas, em espanhol com o subtítulo: “O Diabo (...) existe e se puede reconocer lo”, recomenda, sim, a assistência do cientista junto ao exorcista, mas acrescenta: “Pretendemos evidentemente falar do médico e do psiquiatra, não do parapsicólogo pela raridade de se encontrarem tais cientistas”.

Completamente absurdo. A raridade de parapsicólogos não é desculpa. Se não encontra bons parapsicólogos, então não queira julgar, assim deixa sem explicação os principais fatos em que pretende apoiar sua tese. Sem Parapsicologia não pode objetivamente analisar as adivinhações (Psi-Gamma: Telepatia, Precognição etc.), movimentos de objetos sem contato (Telecinesia), falar em línguas desconhecidas (Xenoglossia ou só Glossolalia), e tantos outros fenômenos parapsicológicos, destacadamente a feitiçaria (Subjugação Telepsíquica) e erotismo desencadeado, que se tomam como argumentos principais –ou únicos– de pretensas possessões demoníacas ou intervenções do Diabo.


AINDA NÃO EXPLICADOS?
D. Zaehringer afirma acertadamente que da Teologia nada se pode tirar a respeito de demonologia. Reconhece: Impõe-se estudar os fenômenos parapsicológicos, isto é, “os processos em que atuam certas forças desconhecidas (...) ainda não explicáveis com os métodos científico-psicológicos e nos quais se produzem, não poucas vezes, estranhos efeitos: feitiçaria, magia, predição, espiritismo etc.” Mas acha o famoso teólogo que “os resultados da pesquisa moderna não são motivo suficiente para negar o influxo do demônio em todos os fenômenos ocultos”. Assim pretende que a existência dos demônios se fundamenta na “experiência de sua atividade”.


O raciocínio certamente está errado, e desprestigia a respeitada coleção “Mysterium Salutis” (Mistério da Salvação). Se reconhece que não há base teológica, o fato de a Parapsicologia não saber “ainda explicar os fatos” (supondo!!) não autorizaria deduzir que é o demônio. Se não pertence à Teologia e não se sabe explicar parapsicologicamente, não se explique! Como freqüentemente se afirma e todos deveriam reconhecer: “Por mais estranha e extraordinária que pareça uma hipótese natural, não deve ser omitida nem desprezada, pois cem vezes mais estranha e extraordinária seria uma intervenção extranatural”.


Pe. Oscar G- Quevedo S.J

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